terça-feira, 31 de agosto de 2010
Sinuca
Ele era conhecido por vários nomes. Todos significavam alguma coisa. No Pará, ele era o Nego Bala – e isso já quer dizer muita coisa. Quem não sabia disso era o valentão de porta de boteco que o desafiou para uma partida de sinuca. Aposta: 100 reais e a honra de ser o dono do pedaço. Parecia um duelo de gigantes, mas não para Abel. Giz branco entre os dedos negros e, uma a uma, as bolas obedeciam a seu comando de pular dentro do buraco. Quando a derradeira bola amarela de número 1 caiu na caçapa, o valentão reagiu e sacou seu três oito. A platéia que acompanhava a peleja se afastou. Abel acendeu um cigarro. “Eu sabia que você não era homem de se apostar na mesa de sinuca. Vagabundo. Toma aqui seu dinheiro”. Abel coloca a mão no bolso e retira um pacote de notas de 100. Arremessa na direção do valentão. Com o dinheiro ainda no ar, Abel saca sua pistola de confiança, que pela vigésima quinta vez iria salvar sua vida e encomendar a de outro, e descarrega no valentão. O povo observa assustado. Abel pega o dinheiro no chão, coloca em cima do balcão: “Hoje é por minha conta. Afinal, é meu aniversário. Acende uma vela pra mim e outra pro presunto”.
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